sábado, 5 de maio de 2012


Fé e Tempo: 06 de maio de 2012







Há exatos trinta dias partia desse mundo um grande amigo com o qual tive o prazer de conviver e conhecer ao longo de quase oito anos: Marcelo Fernandes Teixeira. Sei que por incumbência do tempo a data “comemorativa” continuará marcando sua partida enquanto fará com que minha mente e de todos que o conheciam rememorem sua estada aqui entre nós, marcada pelo seu sorriso cativante, seu jeito meio maroto de ser, sua devoção à família e aos amigos, sua alegria de viver e sua vontade de enaltecer as boas qualidades das pessoas.

 Nos primeiros instantes após sua partida tudo era tristeza, dor, pesar e sofrimento. Não havia espaço para outras emoções que não fossem as caracterizadas pelo tom lúgubre, melancólico, pesaroso, saudoso e dolorido que se encrustavam no peito da gente acrescidos de angústia e muitos porquês. Nessas horas todos os instintos humanos ficam sobressaltados e o mais eloquente deles é a fé, pois é a única e última tentativa de se agarrar a um fio de esperança que possa trazer conforto, refrigério e bálsamo capazes de dar lenitivo aos corações contritos e machucados.

Por sua vez, o tempo vai se encarregando de cauterizar a ferida que ficou aberta em nossos corações e com o passar apressado do mesmo fica no final apenas uma indelével cicatriz, para nos lembrar de que aquela se refere a alguém especial que coabitou entre nós, entre tantas outras cicatrizes ali representadas por aqueles entes queridos que partiram.  Não fosse o tempo e a fé, sucumbiríamos ao desespero eterno sempre que perdêssemos um ente querido, tal são a dor e o vazio que ficam após nos deixarem.

Mas como Deus é muito bom e justo, deixou-nos através da sua infinita sabedoria, misericórdia e providência, um legado muito precioso com o qual poderíamos contar sempre que exercitássemos o poder da crença – a FÉ.  Por esse poder que nos é dado pela graça de Deus, somos capazes de acreditar que a brevidade da vida terrena tem sua finitude na forma do corpo carnal que volta ao pó, enquanto que o espírito vivente que habita o mesmo, parte rumo às mais altas esferas das mansões celestiais, para onde retornam todos os que foram criados por Deus, pois sim, somos feitura sua, conforme sua imagem e semelhança.

O tempo e a fé são fatores determinantes para que possamos continuar nossa jornada enquanto nossa hora não chega. Sabemos que todos haveremos de deixar um dia a superfície desse planeta que nos abriga, mas enquanto isso não se dá, é mister que continuemos com nosso propósito à nós outorgado, que é viver da melhor maneira possível, com tudo e com todos. Como ninguém nunca morre quando se está vivo em nossos corações, continuaremos vivendo nossas vidas carregando as lembranças dos que se foram, na indissolúvel certeza de que um dia haveremos de nos arrebanhar com eles e com grande júbilo nos confraternizaremos.

Eis a grande esperança que nos aguarda o porvir. Pensar nessa possibilidade e crer pela fé que ela se concretizará é o único conforto capaz de minimizar a saudade dos que se foram.

 Durante os primeiros momentos de dor e tristeza, supliquei muito a Deus que me desse entendimento das coisas que não era capaz de compreender e aceitar, pois nesse estado em que vivemos, digo, na condição da carne, vemos as coisas por espelho em enigma como diz o apóstolo Paulo na primeira carta aos Coríntios, capítulo 13, versículo 12, e acrescenta dizendo que haverá um dia em que veremos face a face, pois agora nos é dado conhecer apenas em parte, mas então conheceremos como também somos conhecidos. Essas palavras foram o suficiente para aceitar a vontade de Deus, no que tange ao nosso tempo de vida aqui na terra e ao momento em que haveremos de deixá-la. Isso trouxe mais conforto ao meu coração e maior entendimento quanto aos mistérios de Deus.

William Shakespeare uma vez disse com muita propriedade: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que o que pode supor a nossa vã filosofia”. Isso é uma grande verdade. Quantos questionamentos já foram encaminhados aos altos céus por almas suplicantes em momentos de grande dor e Deus simplesmente dizia: “a minha graça te basta”, tal como fez ao apóstolo Paulo quando suplicou a Ele que se possível fosse, que lhe tirasse o espinho da carne que tanto o atormentava. Nem sempre Deus nos responde conforme nossas solicitações, embora muitas vezes Ele nos fale de maneira muito simples, quando nos concede mais um dia de vida, quando nos saúda com um lindo dia de sol, quando usa alguém para nos trazer uma palavra amiga, quando faz uma situação rotineira parecer mais do que singular, ou simplesmente quando nos fala bem lá no foro íntimo da nossa alma quando estamos aquietados, reflexivos, compenetrados e sintonizados a Ele.

Hoje sou capaz de rememorar meus entes queridos folheando álbuns de fotografias, enquanto deixo minha memória voltar ao tempo para estar com eles naqueles momentos que foram tão preciosos. É como se uma janela do tempo abrisse diante dos meus olhos e minha mente percorresse os muitos anos já passados até chegar à época em que eles estavam aqui. Posso me lembrar de suas vozes, de suas qualidades, de seus defeitos, de seus sorrisos, do modo simples com que agiam, seus gestos, suas palavras de carinho, seu companheirismo e tantas outras coisas boas que os qualificavam como seres humanos especiais. Hoje tenho todos eles muito bem vivos na minha memória e principalmente no meu coração. A saudade deixou de ser um sentimento dolorido para se tornar numa sensação de carinho, amor fraterno....

Como é bom lembrar de minha querida vovó Rita, vovô Grimaldo, vovó Maria Machado, vovô Virgílio, o qual conheci apenas por uma antiga foto, pois quando morrera meu pai era muito jovem e nem era casado e eu sequer estava programado para vir ao mundo. Ainda tenho saudades do tio Pitágoras, do tio Guaraci, do tio João, do tio Manoel, do tio Gerson, da tia Gilva, do primo Wellington, do primo Gesimar, do Primo Bruno Cézar, da minha amiga Maria Enedina Prata e do mais recente e saudoso Marcelo Fernandes Teixeira. Não haveria espaço suficiente para listar todos aqueles que se foram deste mundo. Foram pessoas muito ditosas, que um dia viveram, amaram, sonharam, riram, alegraram, choraram, encantaram, se decepcionaram, aprenderam, erraram, caíram, reergueram, lutaram, apaziguaram, duvidaram e creram.

Como é bom saber que tais pessoas não cruzaram meu caminho por acaso; que minha vida não teria tido as mesmas cores se não fosse pela passagem delas. Como é bom saber que nossas vidas estão entrelaçadas, que um pôde aprender com o outro e cada qual pôde contribuir com um pouco de si para o crescimento de todos. Como é bom ter Deus como idealizador da família, das relações humanas, dos amigos....

Quão bom é poder viver para testemunhar das maravilhas que Deus faz todos os dias em nossas vidas, mesmo quando não nos apercebemos disso. Quão bom é viver e saber que a morte não é nada mais do que o prenúncio de uma nova vida, cheia da plenitude, da graça e da misericórdia de Deus. Que Deus seja louvado pela vida, tanto pela terrena quanto pela vindoura!