É possível que muitas pessoas pensem que sou melancólico, depressivo e até romântico, porém aquele romântico que tem uma visão fatalista das coisas, onde a morte é a solução derradeira, como podemos observar no período romântico da literatura. A verdade é que, tal como a Bíblia diz, há tempo para todas as coisas debaixo dos céus: tempo de plantar, tempo de colher, tempo de rir, tempo de prantear. Decidi nos últimos dias fazer o último _ prantear. Sim, porque chorar às vezes se faz necessário, pois é a forma que nossa alma encontra para externar todo o pesar quando passamos por um momento triste, por uma perda, ou como diz o salmista: pelo vale da sombra da morte. Aliás, o Salmo 23 tem sido meu grande socorrista nesses tempos de pranto, pois sua mensagem vai direto ao encontro das necessidades de quem chora, trazendo consolo, conforto e esperança de dias melhores. Para quem há muito não o lê, eis o que diz:
Salmo 23 - A felicidade de termos o Senhor como nosso Pastor
"O Senhor é o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por longos dias."
É uma mensagem de conforto absoluto, de proteção e de misericórdia. Deus é comparado ao pastor que com dedicação, amor e afinco se dedica a cuidar de suas ovelhas, sem deixar que uma se quer se perca. Nos tempos bíblicos a figura do pastor era muito importante, pois cabia a ele o cuidado do rebanho de ovelhas, livrando-as dos perigos do deserto, dos predadores, buscando as que se perdiam do rebanho e cuidando das que se feriam ou adoeciam. Também provia-lhes de alimento quando este era escasso no deserto, buscando-o em outras paragens e protegia cada uma com amor especial, sem deixar nenhuma desamparada. Era uma vida de dedicação incondicional, para garantir-lhes a segurança e seu bem-estar no rebanho, pois mui preciosas eram aos olhos do seu pastor.
Tal como ovelhas, assim somos nós aos olhos de Deus. Vede que as ovelhas são animais indefesos, dóceis, facilmente abatidas pelos predadores e necessitavam de alguém para que olhasse por elas. Da mesma forma os olhos de Deus estão sobre nós, sempre nos vigiando, ainda que às vezes tenhamos a impressão de que Ele tenha se ausentado por uns tempos. É com esse amor que Ele nos recolhe ao seu rebanho e nos dá consolação quando nos sentimos fragilizados, cabisbaixos, atordoados e sozinhos no mundo, ou mesmo quando nossos inimigos ficam à espreita para nos atacar. Tenho tido a oportunidade de experimentar esse zelo enquanto atravesso meu "vale da sombra da morte" particular.
Enquanto passo por ele, posso sentir medo, solidão, abandono, vazio, incertezas e toda sorte de sentimentos negativos que parecem acompanhar a travessia de quem cruza por esse vale. Mas é aí que está a diferença, pois ao nosso lado vai o Senhor, guiando-nos pelas sendas escuras com seu cajado à mão, pronto a debelar todo perigo que se apresente. Com sua presença a travessia se torna segura e podemos sentir seu conforto, sua consolação, de modo que chegamos ao outro lado sãos e salvos.
Durante a trajetória de nossas vidas passamos por vários "vales da sombra da morte", mas é mister saber que se confiarmos em Deus, Ele nos ajudará a atravessá-los. Há momentos na vida em que parecemos estar sozinhos, desamparados, ou talvez até sem respostas para indagações feitas à Deus e que muitas das vezes não requerem respostas imediatas, ou simplesmente não são respondidas, porque para Deus, o silêncio também pode ser uma forma de responder aos nossos questionamentos. Podemos não entender a razão de todas as coisas, Mas Ele tem o controle de tudo nas mãos, e é nessas horas que entra a fé, a confiança incondicional de que tudo está no controle desde que tenha sido entregue aos cuidados de Deus sem reservas. Eis aí um difícil exercício para nós humanos, seres tacanhos e de pouca fé.
Após doze dias da perda do meu amigo já citado em outros textos, comecei a experimentar o conforto de Deus, sentindo uma paz quase que palpável na minha alma, algo difícil de explicar, mas é como se Ele estivesse dizendo: "Ei, fique tranquilo, não se desespere, pois tenho tudo sob controle e sei de tudo o que faço, pois Eu sou o Senhor de todas as coisas e tudo está subjugado à mim, portanto não temas, apenas confie, pois tenho firmes propósitos para todas as coisas que estão sob meus olhos." É essa sensação que tenho experimentado, ainda que meu lado humano, fraco e limitado se sinta vencido pela dor e pela tristeza da partida. Sim, pois para quem fica, não resta outro sentimento senão a saudade condoída que insiste fazer morada no peito da gente.
Aprendi com o passar do tempo e com as experiências que, quando cremos em Deus, tudo passa a ter um propósito e um significado em nossas vidas, mesmo aquelas coisas que não somos capazes de entender em determinado momento. Querem algo mais misterioso e difícil de entender do que a morte? Paradoxalmente à ideia que fazemos dela, há um versículo bíblico que se encontra no salmo 116:15 que acho muito bonito e diz assim: "Preciosa é a vista do Senhor a morte dos seus filhos." Eis um grande versículo de consolação para os que ficam para trás, deixados pelos que partiram desse mundo ao encontro de Deus. Ainda que a tristeza seja um fardo pesado de carregar quando perdemos quem estimamos, Deus nos dá conforto e amparo como podemos ver em Ezequiel 3:14 "Eu fui muito triste, mas a mão do Senhor se fez forte sobre mim."
Que estou triste, isso é um fato, mas Deus está cuidando de mim. Apesar dessa perda recente ter trazido à minha memória todos com os quais convivi e que já não se encontram mais por perto, sinto que Deus está no controle do leme e quer que eu simplesmente confie à Ele todas as coisas, inclusive o dia em que também haverei de partir.
Enquanto esse dia não chega, já que dele ninguém sabe a hora, nem o dia, nem o local e nem a forma como se dará, vou tentando aos poucos me reerguer para continuar minha jornada, vivendo os dias que me restam e tentando fazer deles algo que valha a pena, até porque, cabe a Deus cuidar de quem já partiu, e a mim cuidar de quem ainda está por perto, pois certamente se ainda estou aqui, é porque posso ser útil a eles.
CARPE DIEM
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