Amigos caricaturados, amigos humoristicamente eternizados....
segunda-feira, 9 de julho de 2012
quinta-feira, 14 de junho de 2012
"Sometimes life is just like a tree
which grows in times of roughness,
and bends down due to tough adversities;
it's just like us when keep faith and stand still
but fade away if there's no place for belief...
so, just like a tree that stands there still,
is our strengthness and weakness based
in what we put or not our certainties".
Luzimar de Oliveira Pinto
segunda-feira, 11 de junho de 2012
SOBRE O PASSAR DO
TEMPO E AS MUDANÇAS NA VIDA
No último feriado de Corpus
Christi viajei para Cataguases, minha terra natal em Minas Gerais, para visitar
meus pais. Cataguases deixou de ser meu lar doce lar há muitos anos, mas como
meus pais ainda moram lá, vez por outra, principalmente nos feriados
prolongados visito-os, pois já estou fora de casa há quase 23 anos e nesse
período muita coisa mudou. De lá para cá meus pais ganharam mais rugas, a pele
ficou mais flácida e murcha, os fios brancos em seus cabelos aumentaram e a
mobilidade ficou mais reduzida. O viço da vida vai aos poucos se desvanecendo e
até o brilho de seus olhos ficou mais opaco. É interessante observar a ação
cruel do tempo, ainda que a gente saiba que as coisas sejam assim mesmo, embora
seja difícil aceitar tais transformações impostas de forma tão radical e
irreversível. A fórmula da vida aqui na terra é assim, e não há nada que
possamos fazer pra alterá-la, senão aceitá-la e vivê-la tal como nos foi
concebida.
Interessante que não são somente as pessoas
que o tempo muda, mas também os lugares, os costumes, os hábitos, o modo de
pensar, a visão de vida, de mundo, as crenças, os princípios, os valores, a
ética e tantas outras coisas que outrora quando éramos jovens tinham outra
definição, outra razão de ser. Hoje, toda a concepção que um dia norteou minha
vida, se reduziu a um punhado de coisas questionáveis, diante das vicissitudes
filosóficas que extrapolam meu ser.
E eu também mudei. Lembro que
meus ideais de vida há vinte anos eram completamente diferentes dos que tenho
hoje. Somos criados de acordo com o que rege nossa cultura, nossas tradições,
valores e princípios morais e éticos; mas um dia tudo isso começa a ser
questionado. Não que tais coisas estivessem erradas ou merecessem uma
reconsideração, mas talvez porque sabemos que na vida nada é essencialmente
estático, tudo muda, passa, transforma... as pessoas, as coisas, o ambiente, os
valores éticos e morais, os princípios que norteiam nosso senso de certo e
errado, nossa crença em nós mesmos, nossa capacidade de adaptação às mudanças
drásticas às quais somos submetidos enquanto o mundo gira e faz girar também a
roda da vida.
Não sei dizer ao certo se com o
passar do tempo me tornei uma pessoa melhor ou não. Dizem que as experiências
da vida nos moldam e nos tornam pessoas melhores, como diamantes brutos que
foram lapidados até adquirirem a bela forma que possuem, ou como o fogo que
derrete o aço na fornalha e o molda em outros objetos. Metaforicamente ou não,
a vida é um contínuo processo de transformação em cada um de nós. Talvez seja
uma centelha da qual mal nos apercebemos, mas com o passar dos anos é possível
que tenhamos a clareza das coisas, ao ver que tal centelha na verdade era parte
dos respingos da imensa fornalha que forja a vida, que nos moldou conforme cada
situação adversa que tenhamos enfrentado ao longo de nossa jornada como seres
em processo de transformação. Hoje me pergunto se fui moldado a um “formato”
condizente com o que deveria ser ou se ainda estou em processo de modelagem. Percebo
que a ação de moldar não cabe a mim mesmo, embora parte dela tenha um pouco da
minha influência pessoal, através dos meus esforços em me tornar aquilo que
gostaria de ser ou de ter para mim mesmo. Além dos meus esforços pessoais,
existe uma força motriz que conduz e move tudo, que poderia ser Deus ou mesmo a
própria vida, ainda que a própria vida pudesse ser Deus ou vice-versa nesse
instante de arrazoar.
O fato é que tudo muda. Tais
mudanças são inerentes à nossa vontade e colocam-nos todos no mesmo barco,
indiferente de credo, raça, posição social, status ou filosofia de vida. Ainda
acredito estar no centro da fornalha, sendo forjado aos poucos, quase que como
em gotas homeopáticas. Talvez para não sentir a dramaticidade da mudança caso
ela se desse de modo abrupto, ou talvez para ir me adaptando pouco a pouco às
mudanças de forma mais sutil, sem que as mesmas não deixassem impregnadas em
mim as cicatrizes mais profundas, como quando enfrentamos a morte de algum ente
querido ou quando passamos por grandes tribulações e provações na vida. O certo
é que tudo colabora para o nosso bem, mesmo que não tenhamos a devida percepção
das coisas naquele momento. Mas um dia haveremos de ter.
Dizem que antigamente o tempo
passava mais devagar, que um ano levava muito mais que 365 dias; hoje se fala
em falta de tempo para quase tudo. É um corre-corre para dar conta das mil e
uma atividades do dia-a-dia e mesmo assim 24 horas parecem não ser suficientes.
Quando eu era pequeno o tempo tinha uma dimensão bem diferente, um ano inteiro
custava muito para passar, e o natal do ano seguinte parecia nunca chegar. Não
sei se era devido ao fato de não haver preocupações com contas a pagar, ou se
era por causa do ócio que alimentava a mente fértil e imaginativa, mas o fato
era que o tempo demorava bem mais para passar, até mesmo os dias eram mais
longos, o que na verdade era muito bom, pois havia tempo de sobra para inventar
muitas brincadeiras.
Tudo começou a mudar quando
entrei para a escola. O tempo antes dedicado essencialmente às brincadeiras
passou a ser comandado pelas letras e pelos números e pouco a pouco o universo
do menino de imaginação fértil foi cedendo espaço ao conhecimento, à aquisição
de novos saberes e a um novo mundo repleto de novas curiosidades. Ainda que de
uma forma um tanto quanto maçante, essa fase foi essencial para o que viria a
seguir, pois sem ela certamente eu não seria a pessoa que sou hoje. Se sou
melhor ou não, isso eu não sei, até porque jamais poderei voltar no tempo para
viver algo diferente e ver se o resultado seria satisfatório ou não. O que
importa é que, mesmo não sendo plenamente satisfeito com o que sou hoje, pude
me dar à oportunidade de ser o que sou, com todos os meu defeitos e qualidades.
Às vezes penso que as experiências que vivemos é que contam e não o resultado
delas.
A vida é um processo filosófico,
onde tessituras se entrelaçam numa constante transformação, em que tempo,
sensações, experiências, emoções, questionamentos, buscas, incertezas e paixões
se entrecruzam e se metamorfoseiam num ciclo contínuo e cadenciado. É algo ao
mesmo tempo apaixonante para os que se abrem às oportunidades por ela
concedida, e ao mesmo tempo entediante, para os que não acreditam mais na sua
beleza, nem no seu poder de sedução. Para esse último caso, o tempo se torna um
pesar, um relógio que marca de forma compassada e morosa cada segundo que
vivemos, como se os mesmos fossem fardos a serem carregados num ciclo viciante,
que só teria fim com o advento das últimas horas por nós vividas. Dizem que
viver é uma arte, e concordo em gênero, número e grau, afinal de contas, não é
nada fácil viver subjugado a um sistema de governo massacrante, dominado por
políticos corruptos e que fazem de tudo para que a vida das pessoas seja mais
difícil, por conta dos arrochos salariais, dos altos e infindos impostos, das
políticas que favorecem os mais ricos em detrimento da execração aos mais
pobres. Junte-se a isso tudo, nossa habilidade em driblar as crises do dia-a-dia
tentando equilibrar as contas para esticar o salário, e a nossa genialidade em
fazer com que mil e uma ações caibam dentro do espaço de 24 horas e teremos
grandes artistas espalhados por todo esse mundo, cada qual vivendo sua própria
e única manifestação artística. E dessa
forma a vida vai passando, ou nós é que vamos passando por ela, depende do
ponto de vista. E o tempo, tal qual um ditador inescrupuloso vai tomando conta da
vida de cada um, acrescentando dias ou diminuindo-os a cada um de nós,
transformando o estado natural das coisas, onde cada fase possui sua própria
beleza, seja ela na infância, na juventude, na mocidade ou já na vida anciã. E
assim vamos nós por essa jornada, sofrendo mudanças aqui, ali e acolá enquanto o
tempo passa sem cessar e insta nossas vidas a mudar. Como escreveu certa vez o
poeta, filósofo e historiador alemão Friedrich
Von Schiller (1759-1805); “de três maneiras passa o tempo: O futuro se
aproxima cautelosamente, rápido como uma flexa voa o presente, eternamente
imóvel permanece o passado”.
sábado, 5 de maio de 2012
Fé e Tempo: 06 de
maio de 2012
Há exatos trinta dias partia
desse mundo um grande amigo com o qual tive o prazer de conviver e conhecer ao
longo de quase oito anos: Marcelo Fernandes Teixeira. Sei que por incumbência
do tempo a data “comemorativa” continuará marcando sua partida enquanto fará
com que minha mente e de todos que o conheciam rememorem sua estada aqui entre
nós, marcada pelo seu sorriso cativante, seu jeito meio maroto de ser, sua devoção
à família e aos amigos, sua alegria de viver e sua vontade de enaltecer as boas
qualidades das pessoas.
Nos primeiros instantes após sua partida tudo
era tristeza, dor, pesar e sofrimento. Não havia espaço para outras emoções que
não fossem as caracterizadas pelo tom lúgubre, melancólico, pesaroso, saudoso e
dolorido que se encrustavam no peito da gente acrescidos de angústia e muitos
porquês. Nessas horas todos os instintos humanos ficam sobressaltados e o mais
eloquente deles é a fé, pois é a única e última tentativa de se agarrar a um
fio de esperança que possa trazer conforto, refrigério e bálsamo capazes de dar
lenitivo aos corações contritos e machucados.
Por sua vez, o tempo vai se
encarregando de cauterizar a ferida que ficou aberta em nossos corações e com o
passar apressado do mesmo fica no final apenas uma indelével cicatriz, para nos
lembrar de que aquela se refere a alguém especial que coabitou entre nós, entre
tantas outras cicatrizes ali representadas por aqueles entes queridos que partiram.
Não fosse o tempo e a fé, sucumbiríamos
ao desespero eterno sempre que perdêssemos um ente querido, tal são a dor e o
vazio que ficam após nos deixarem.
Mas como Deus é muito bom e justo,
deixou-nos através da sua infinita sabedoria, misericórdia e providência, um
legado muito precioso com o qual poderíamos contar sempre que exercitássemos o
poder da crença – a FÉ. Por esse poder
que nos é dado pela graça de Deus, somos capazes de acreditar que a brevidade
da vida terrena tem sua finitude na forma do corpo carnal que volta ao pó,
enquanto que o espírito vivente que habita o mesmo, parte rumo às mais altas
esferas das mansões celestiais, para onde retornam todos os que foram criados
por Deus, pois sim, somos feitura sua, conforme sua imagem e semelhança.
O tempo e a fé são fatores
determinantes para que possamos continuar nossa jornada enquanto nossa hora não
chega. Sabemos que todos haveremos de deixar um dia a superfície desse planeta
que nos abriga, mas enquanto isso não se dá, é mister que continuemos com nosso
propósito à nós outorgado, que é viver da melhor maneira possível, com tudo e
com todos. Como ninguém nunca morre quando se está vivo em nossos corações,
continuaremos vivendo nossas vidas carregando as lembranças dos que se foram,
na indissolúvel certeza de que um dia haveremos de nos arrebanhar com eles e
com grande júbilo nos confraternizaremos.
Eis a grande esperança que nos
aguarda o porvir. Pensar nessa possibilidade e crer pela fé que ela se
concretizará é o único conforto capaz de minimizar a saudade dos que se foram.
Durante os primeiros momentos de dor e
tristeza, supliquei muito a Deus que me desse entendimento das coisas que não
era capaz de compreender e aceitar, pois nesse estado em que vivemos, digo, na
condição da carne, vemos as coisas por espelho em enigma como diz o apóstolo
Paulo na primeira carta aos Coríntios, capítulo 13, versículo 12, e acrescenta dizendo que
haverá um dia em que veremos face a face, pois agora nos é dado conhecer apenas
em parte, mas então conheceremos como também somos conhecidos. Essas palavras
foram o suficiente para aceitar a vontade de Deus, no que tange ao nosso tempo
de vida aqui na terra e ao momento em que haveremos de deixá-la. Isso trouxe
mais conforto ao meu coração e maior entendimento quanto aos mistérios de Deus.
William Shakespeare uma vez disse
com muita propriedade: “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que o que
pode supor a nossa vã filosofia”. Isso é uma grande verdade. Quantos
questionamentos já foram encaminhados aos altos céus por almas suplicantes em
momentos de grande dor e Deus simplesmente dizia: “a minha graça te basta”, tal
como fez ao apóstolo Paulo quando suplicou a Ele que se possível fosse, que lhe
tirasse o espinho da carne que tanto o atormentava. Nem sempre Deus nos responde
conforme nossas solicitações, embora muitas vezes Ele nos fale de maneira muito
simples, quando nos concede mais um dia de vida, quando nos saúda com um lindo
dia de sol, quando usa alguém para nos trazer uma palavra amiga, quando faz uma
situação rotineira parecer mais do que singular, ou simplesmente quando nos
fala bem lá no foro íntimo da nossa alma quando estamos aquietados,
reflexivos, compenetrados e sintonizados a Ele.
Hoje sou capaz de rememorar meus
entes queridos folheando álbuns de fotografias, enquanto deixo minha memória
voltar ao tempo para estar com eles naqueles momentos que foram tão preciosos.
É como se uma janela do tempo abrisse diante dos meus olhos e minha mente
percorresse os muitos anos já passados até chegar à época em que eles estavam
aqui. Posso me lembrar de suas vozes, de suas qualidades, de seus defeitos, de
seus sorrisos, do modo simples com que agiam, seus gestos, suas palavras de
carinho, seu companheirismo e tantas outras coisas boas que os qualificavam
como seres humanos especiais. Hoje tenho todos eles muito bem vivos na minha
memória e principalmente no meu coração. A saudade deixou de ser um sentimento
dolorido para se tornar numa sensação de carinho, amor fraterno....
Como é bom lembrar de minha querida
vovó Rita, vovô Grimaldo, vovó Maria Machado, vovô Virgílio, o qual conheci apenas por uma antiga foto, pois quando morrera meu pai era muito jovem e nem era casado e eu
sequer estava programado para vir ao mundo. Ainda tenho saudades do tio
Pitágoras, do tio Guaraci, do tio João, do tio Manoel, do tio Gerson, da tia
Gilva, do primo Wellington, do primo Gesimar, do Primo Bruno Cézar, da minha
amiga Maria Enedina Prata e do mais recente e saudoso Marcelo Fernandes
Teixeira. Não haveria espaço suficiente para listar todos aqueles que se foram
deste mundo. Foram pessoas muito ditosas, que um dia viveram, amaram, sonharam,
riram, alegraram, choraram, encantaram, se decepcionaram, aprenderam, erraram,
caíram, reergueram, lutaram, apaziguaram, duvidaram e creram.
Como é bom saber que tais pessoas
não cruzaram meu caminho por acaso; que minha vida não teria tido as mesmas
cores se não fosse pela passagem delas. Como é bom saber que nossas vidas estão
entrelaçadas, que um pôde aprender com o outro e cada qual pôde contribuir com um
pouco de si para o crescimento de todos. Como é bom ter Deus como
idealizador da família, das relações humanas, dos amigos....
Quão bom é poder viver para
testemunhar das maravilhas que Deus faz todos os dias em nossas vidas, mesmo
quando não nos apercebemos disso. Quão bom é viver e saber que a morte não é
nada mais do que o prenúncio de uma nova vida, cheia da plenitude, da graça e
da misericórdia de Deus. Que Deus seja louvado pela vida, tanto pela terrena
quanto pela vindoura!
quinta-feira, 19 de abril de 2012
O BOM PASTOR
Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. João 10:11
Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas. João 10:11
Fiz o desenho abaixo em 1994, quando cursava faculdade na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. O desenho foi fruto de um momento difícil pelo qual eu passava. Me sentia muito só e triste, e na ocasião busquei a Deus com muita força, pedindo um pouco de conforto, paz e segurança. Naquele momento me humilhei diante dele com o coração muito contrito e senti o quanto era necessitado dele. Tinha grandes questionamentos a cerca da vida, dos seus mistérios, da nossa missão aqui na terra, de onde vínhamos e para onde íamos. Embora não tenha encontrado as respostas que procurava, pois como já disse em outro artigo postado aqui, o silêncio também é uma forma de Deus nos responder, pois Ele não tem a nossa pressa, nossa angústia, nossa necessidade de obter explicações sobre tudo que há entre os céus e a terra. Deus é Deus e pronto, e cabe a Ele determinar e sondar todas as coisas. O salmo 139 que fala sobre a onipresença e onipotência de Deus nos dá uma belíssima visão do seu cuidado em relação a nós, de como Ele nos conhece e sabe de todas as nossas angústias, necessidades e de como Ele esquadrinha nossos corações e vai fundo no âmago de nossa alma. Nesse dia em especial senti uma inspiração muito forte para fazer esse desenho e ao final do mesmo, pude me sentir bem melhor.
Dedico-o à todos que buscam o colo de Deus e que se colocam como ovelhas do seu pasto, sob seus cuidados e entregues aos seus braços.
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Sobre o amor e a saudade
AS DUAS SOMBRAS
Olegário Mariano
Gostaria de compartilhar um poema que aprendi no meu livro de Português quando cursava a 5ª série primária em 1979 em Ferraz de Vasconcelos, São Paulo. É um belíssimo poema de autoria de Olegário Mariano, que expressa de forma muito apropriada a ideia do amor e da saudade. Dedico esse poema a todos que amam, que já amaram ou que sentem saudades de alguém especial.
AS DUAS SOMBRAS
Na encruzilhada silenciosa do Destino,
Quando as estrelas se multiplicavam,
Duas sombras errantes se encontraram.
A primeira falou: — “Eu nasci de um beijo
De luz; sou força, vida, alma, esplendor.
Trago em mim toda a glória do Desejo,
Toda a ânsia do Universo... Eu sou o Amor.
O mundo sinto exânime aos meus pés...
Sou delírio... Loucura... E tu, quem és?”
— “Eu nasci de uma lágrima.
Sou flama do teu incêndio que devora...
Vivo dos olhos tristes de quem ama,
Para os olhos nevoentos de quem chora.
Dizem que ao mundo vim para ser boa,
Para dar do meu sangue a quem me queira.
Sou a Saudade, a tua companheira
Que punge, que consola e que perdoa...”
Na encruzilhada silenciosa do Destino,
As duas sombras comovidas se abraçaram
E de então, nunca mais se separaram.
Quando as estrelas se multiplicavam,
Duas sombras errantes se encontraram.
A primeira falou: — “Eu nasci de um beijo
De luz; sou força, vida, alma, esplendor.
Trago em mim toda a glória do Desejo,
Toda a ânsia do Universo... Eu sou o Amor.
O mundo sinto exânime aos meus pés...
Sou delírio... Loucura... E tu, quem és?”
— “Eu nasci de uma lágrima.
Sou flama do teu incêndio que devora...
Vivo dos olhos tristes de quem ama,
Para os olhos nevoentos de quem chora.
Dizem que ao mundo vim para ser boa,
Para dar do meu sangue a quem me queira.
Sou a Saudade, a tua companheira
Que punge, que consola e que perdoa...”
Na encruzilhada silenciosa do Destino,
As duas sombras comovidas se abraçaram
E de então, nunca mais se separaram.
Olegário Mariano
Sobre a continuidade da vida
É possível que muitas pessoas pensem que sou melancólico, depressivo e até romântico, porém aquele romântico que tem uma visão fatalista das coisas, onde a morte é a solução derradeira, como podemos observar no período romântico da literatura. A verdade é que, tal como a Bíblia diz, há tempo para todas as coisas debaixo dos céus: tempo de plantar, tempo de colher, tempo de rir, tempo de prantear. Decidi nos últimos dias fazer o último _ prantear. Sim, porque chorar às vezes se faz necessário, pois é a forma que nossa alma encontra para externar todo o pesar quando passamos por um momento triste, por uma perda, ou como diz o salmista: pelo vale da sombra da morte. Aliás, o Salmo 23 tem sido meu grande socorrista nesses tempos de pranto, pois sua mensagem vai direto ao encontro das necessidades de quem chora, trazendo consolo, conforto e esperança de dias melhores. Para quem há muito não o lê, eis o que diz:
Salmo 23 - A felicidade de termos o Senhor como nosso Pastor
"O Senhor é o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor por longos dias."
É uma mensagem de conforto absoluto, de proteção e de misericórdia. Deus é comparado ao pastor que com dedicação, amor e afinco se dedica a cuidar de suas ovelhas, sem deixar que uma se quer se perca. Nos tempos bíblicos a figura do pastor era muito importante, pois cabia a ele o cuidado do rebanho de ovelhas, livrando-as dos perigos do deserto, dos predadores, buscando as que se perdiam do rebanho e cuidando das que se feriam ou adoeciam. Também provia-lhes de alimento quando este era escasso no deserto, buscando-o em outras paragens e protegia cada uma com amor especial, sem deixar nenhuma desamparada. Era uma vida de dedicação incondicional, para garantir-lhes a segurança e seu bem-estar no rebanho, pois mui preciosas eram aos olhos do seu pastor.
Tal como ovelhas, assim somos nós aos olhos de Deus. Vede que as ovelhas são animais indefesos, dóceis, facilmente abatidas pelos predadores e necessitavam de alguém para que olhasse por elas. Da mesma forma os olhos de Deus estão sobre nós, sempre nos vigiando, ainda que às vezes tenhamos a impressão de que Ele tenha se ausentado por uns tempos. É com esse amor que Ele nos recolhe ao seu rebanho e nos dá consolação quando nos sentimos fragilizados, cabisbaixos, atordoados e sozinhos no mundo, ou mesmo quando nossos inimigos ficam à espreita para nos atacar. Tenho tido a oportunidade de experimentar esse zelo enquanto atravesso meu "vale da sombra da morte" particular.
Enquanto passo por ele, posso sentir medo, solidão, abandono, vazio, incertezas e toda sorte de sentimentos negativos que parecem acompanhar a travessia de quem cruza por esse vale. Mas é aí que está a diferença, pois ao nosso lado vai o Senhor, guiando-nos pelas sendas escuras com seu cajado à mão, pronto a debelar todo perigo que se apresente. Com sua presença a travessia se torna segura e podemos sentir seu conforto, sua consolação, de modo que chegamos ao outro lado sãos e salvos.
Durante a trajetória de nossas vidas passamos por vários "vales da sombra da morte", mas é mister saber que se confiarmos em Deus, Ele nos ajudará a atravessá-los. Há momentos na vida em que parecemos estar sozinhos, desamparados, ou talvez até sem respostas para indagações feitas à Deus e que muitas das vezes não requerem respostas imediatas, ou simplesmente não são respondidas, porque para Deus, o silêncio também pode ser uma forma de responder aos nossos questionamentos. Podemos não entender a razão de todas as coisas, Mas Ele tem o controle de tudo nas mãos, e é nessas horas que entra a fé, a confiança incondicional de que tudo está no controle desde que tenha sido entregue aos cuidados de Deus sem reservas. Eis aí um difícil exercício para nós humanos, seres tacanhos e de pouca fé.
Após doze dias da perda do meu amigo já citado em outros textos, comecei a experimentar o conforto de Deus, sentindo uma paz quase que palpável na minha alma, algo difícil de explicar, mas é como se Ele estivesse dizendo: "Ei, fique tranquilo, não se desespere, pois tenho tudo sob controle e sei de tudo o que faço, pois Eu sou o Senhor de todas as coisas e tudo está subjugado à mim, portanto não temas, apenas confie, pois tenho firmes propósitos para todas as coisas que estão sob meus olhos." É essa sensação que tenho experimentado, ainda que meu lado humano, fraco e limitado se sinta vencido pela dor e pela tristeza da partida. Sim, pois para quem fica, não resta outro sentimento senão a saudade condoída que insiste fazer morada no peito da gente.
Aprendi com o passar do tempo e com as experiências que, quando cremos em Deus, tudo passa a ter um propósito e um significado em nossas vidas, mesmo aquelas coisas que não somos capazes de entender em determinado momento. Querem algo mais misterioso e difícil de entender do que a morte? Paradoxalmente à ideia que fazemos dela, há um versículo bíblico que se encontra no salmo 116:15 que acho muito bonito e diz assim: "Preciosa é a vista do Senhor a morte dos seus filhos." Eis um grande versículo de consolação para os que ficam para trás, deixados pelos que partiram desse mundo ao encontro de Deus. Ainda que a tristeza seja um fardo pesado de carregar quando perdemos quem estimamos, Deus nos dá conforto e amparo como podemos ver em Ezequiel 3:14 "Eu fui muito triste, mas a mão do Senhor se fez forte sobre mim."
Que estou triste, isso é um fato, mas Deus está cuidando de mim. Apesar dessa perda recente ter trazido à minha memória todos com os quais convivi e que já não se encontram mais por perto, sinto que Deus está no controle do leme e quer que eu simplesmente confie à Ele todas as coisas, inclusive o dia em que também haverei de partir.
Enquanto esse dia não chega, já que dele ninguém sabe a hora, nem o dia, nem o local e nem a forma como se dará, vou tentando aos poucos me reerguer para continuar minha jornada, vivendo os dias que me restam e tentando fazer deles algo que valha a pena, até porque, cabe a Deus cuidar de quem já partiu, e a mim cuidar de quem ainda está por perto, pois certamente se ainda estou aqui, é porque posso ser útil a eles.
CARPE DIEM
terça-feira, 17 de abril de 2012
Ainda sobre o luto, porém com a continuidade da vida.
Ainda sobre o luto, porém com a continuidade da vida.
De tudo o que pode representar perda, separação,
dor, saudade e vazio, certamente a morte é a maior expressão que o ser humano
pode encontrar. O fato é que desde os primórdios da civilização ou o que
antecedeu a ela, a morte sempre esteve vinculada à vida do homem e de fato é
tão inerente quanto a própria vida. Nascemos, crescemos, vivemos uma história e
fatalmente um dia morreremos. Segue-se a ela um misto de medo, apreensão,
curiosidade e até respeito, pois ela se apresenta austera, implacável, e,
sobretudo, imprevisível, exceto quando somos vitimados por uma doença de cunho
degenerativo ou fatal, que prenuncia nosso inevitável fim em gotas
homeopáticas. Assim tem sido desde que o mundo é mundo, e independente do que
religiosos ou leigos possam declarar, ela vem para todos, não importa o credo,
a raça, o status ou o perfil de vida de cada um. Diante dela somos todos
vítimas convidados a um dia descer à cova e voltar ao pó que segundo a crença
cristã, deu origem ao homem antes de ser vivificado pelo fôlego de Deus.
Isso é fato. Lembro-me muito bem da exumação do
cadáver do meu primo que falecera em 1998 aos 21 anos. Passados seis anos após
sua morte, minha avó deu entrada ao mesmo túmulo, sendo que para isso meu primo
tivera que ser removido do local para dar espaço à matriarca da família. Qual
não foi minha surpresa ao constatar que de tudo que se decompõe sobra uma
camada marrom café granulada, semelhante ao solo que pisamos em vida. Ali já
não existia mais a pessoa que um dia compartilhamos histórias, risos,
tristezas, aventuras e toda sorte de experiências que a vida pode abarcar.
Apenas seus restos mortais ou o substrato do que um dia foi uma pessoa plena de
vida, em toda sua forma física, cheia de juventude. Meu primo já não se
encontrava mais ali desde que se passaram os últimos seis anos de sua morte.
Ele estava em outro local, provavelmente em algum lugar bem melhor do que o
planeta caótico e atribulado em que vivemos.
Lembro-me muito bem do dia de sua morte. Ele
chegara de Taubaté, vindo de mudança para Cataguases, interior de Minas, depois
de um período na cidade do interior paulista onde a mãe e seu companheiro
estiveram para tentar uma vida melhor. Por ser jovem e cheio de vitalidade, meu
primo ajudou a descarregar a mudança para a nova casa onde haveriam de morar.
Era uma terça-feira nublada, de chuva fina e fria. Ao cair da noite ele se
queixara de dores nas costas e consequentemente pensaram que havia sido por
causa do peso dos móveis que ajudara a transportar. Passado algum tempo, as
queixas de dores nas costas continuavam, e então sugeriram que tomasse um
comprimido para dores musculares. Feito isso, aguardou melhoras...que não
vieram, e seu caso foi piorando. No dia seguinte levaram-no ao médico, que sem
muita atenção, diagnosticou-o com problemas renais e para tal lhe aviou uma
medicação. Sem sucesso, as dores continuaram e com ela veio a febre
intermitente. Já preocupada com seu estado de saúde, minha tia o levou ao
hospital da cidade, onde ele fora medicado e internado para avaliações e exames.
Nenhum resultado satisfatório pôde ser observado nos exames realizados, e seu
estado de saúde foi agravando. Agravou tanto, que desencadeou uma septicemia,
que lhe consumiu as forças aos poucos, enquanto minha tia padecia por vê-lo
sofrer sem que os médicos descobrissem a causa do problema.
Após sete dias internado no hospital, meu primo
veio a falecer, porém, alguns dias antes confidenciou à mãe que pressentia que
sua jornada sobre a terra estava findando. Minha tia ficou desesperada e se
agarrou à Deus com toda sua força, suplicando-lhe que poupasse a vida do seu
filho. Clamores em vão, pois aprouve à Deus definir o tempo de vida de cada um
debaixo dos céus, e meu primo havia sido contemplado com vinte e um anos de
existência terrestre apenas. Como toda mãe que não é desnaturada, minha tia
entrou em profundo desespero, pois seu filho mais novo lhe era retirado dos
braços que um dia o embalou e amamentou.
A comoção na família foi geral, pois como
costumam dizer, essa é a inversão da ordem natural das coisas, pois uma mãe ou
um pai jamais esperam sepultar um filho. Um fato importante e muito inquietante
se deu no dia de sua morte. Encontrava-me em casa com minha mãe, havia acabado
de almoçar e preparava-me para sair para o trabalho. Minha mãe estava na beira
do tanque lavando algumas peças de roupas quando sentiu um aroma diferente no
ar. “Luzimar, você está sentindo esse cheiro forte de flores que eu estou
sentindo?” “Sim, afirmei.” “Não estou gostando nada disso”, disse minha mãe.
Por quê?” perguntei. “Você sabe que seu primo não está nada bem, e isso não é
um bom sinal”, vaticinou. Passaram-se cerca de dez minutos e o telefone do
hospital ligou para informar que meu primo havia falecido minutos antes. Tanto eu quanto minha mãe acreditamos que o
cheiro de flor que sentimos foi o espírito do meu primo passando por nossa casa
para se despedir de nós.
Chegado o momento dos preparativos do velório,
não faltou quem se aproximasse para prestar sinceras condolências pela dor que
ela sentia, e todos eram muito bem intencionados ao dizer "não fique
assim, Deus vai confortá-la". Qual não foi o espanto de todos ao ver sua
reação em fúria, praguejando contra Deus por não tê-la atendido quando suplicou
para que curasse seu filho. Como já disse acima, coube à Deus decidir o destino
e desfecho de cada um de nós, pois como atesta a Bíblia, não há um só fio de
cabelo de nossa cabeça que caia sem que que Ele saiba. Certamente Ele deve
estar no controle de todas as coisas, inclusive na forma como prefere nos levar
para junto de Si. Passada a comoção do enterro, todos muito abatidos e sem
entender o porquê de uma vida terminar tão cedo e de modo tão inexplicado,
dirigiram-se para suas casas inconsoláveis com as vicissitudes dessa vida.
Alguns dias se passaram e a tristeza de sua
partida era compartilhada por todos os membros da família. Até que num
determinado dia, que não me lembro exatamente quando, encontrava-me deitado no
meu quarto a noite, em profundo sono. Sonhei que estava em um lugar como aqui
na terra mesmo, havia natureza, árvores, sol, céu azul, enfim, um lindo dia
ensolarado. Vi algumas pessoas reunidas sob uma grande cobertura semelhante a
uma varanda, porém sem paredes laterais. A edificação possuía pilastras e
parecia ser coberta por telhas de cerâmica. Por algum motivo eu sabia que meu
primo se encontrava ali, e comecei a passear entre as pessoas que ali se encontravam
na tentativa de encontrá-lo. Porém, para minha surpresa, as pessoas que ali
estavam reunidas como que num evento social, agrupadas em rodas, conversando e
sorrindo, não podiam me ver nem me ouvir, e por isso mesmo eu não podia
interpelar nenhuma delas.
Continuei à procura do meu primo, até que senti
sua presença e me virei de imediato. Ele aparentava uns dez anos mais jovem e
estava com uma aparência muito feliz. Não trocamos uma sílaba se quer. Apenas
nos entreolhamos, sorrimos um para o outro e pude entender que ele estava bem.
Nesse exato momento, enquanto ainda visualizava o sonho em minha mente, fui
acordado de súbito por uma voz calma e serena que sussurrou junto ao meu
ouvido: “Conta para a mãe dele”. Pude sentir a vibração da voz no meu ouvido
direito, parecia até ser possível sentir o calor da voz. Acordei num ímpeto só,
sem medo, e entendi que precisara ser acordado para que pudesse reter o máximo
do sonho na minha memória para depois partilhá-lo com minha tia. Ao amanhecer
contei o sonho primeiramente para minha mãe, que sabiamente me aconselhou a
procurar minha tia o mais rápido possível para lhe dar as boas novas sobre meu
primo. Depois desse episódio minta tia ficara mais calma, aceitou a morte do
meu primo com mais conformidade, apenas lamentando o fato de não ter sido ela a
pessoa escolhida para estar lá onde ele se encontrava. Motivo óbvio: ela estava
muito amarga, com o coração muito endurecido e muito revoltada contra Deus.
Certamente ela não estava em condições de ser transportada para um lugar onde a
paz indivisível se fazia presente.
Depois dessa experiência tão marcante e pessoal,
pude ter a certeza de que a efemeridade de nossa vida terrena não finda com a
morte. Deixamos nosso corpo para voltar ao pó e nosso espírito volta para Deus,
pois a Ele pertencem todas as almas. Esse sonho me fez superar a dor do luto
com mais facilidade, pois tenho certeza que há continuidade após a morte.
Embora fique a dor saudade e da separação física, podemos ter certeza que um
dia nos reencontraremos novamente, porque Deus é amor acima de todas as coisas
e a Sua misericórdia é sem fim, assim como também é abundante a sua graça.
A morte trágica e súbita dos meus amigos Marcelo
e Ildo ainda que me doam muito, não é capaz de me roubar a esperança de dias
vindouros em que poderei encontrá-los novamente, assim como a todos os meus
queridos amigos e entes queridos que já partiram antes de mim. Esse dia será de
grande júbilo para todos aqueles que esperam em Deus e nEle anseiam reencontrar
a todos a quem tanto amaram enquanto por aqui passaram. Que assim seja!
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